sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Usineiros dominam economia e poder político em Alagoas


OLIGARQUIA HOJE. Nos últimos anos, os donos de usinas assumiram o comando geral do Estado
Por: CARLA SERQUEIRA - REPÓRTER
Alagoas nasceu da cana. O Litoral primeiro, depois as matas, os tabuleiros, tudo abriu caminho para o açúcar. O canavial trouxe riqueza, ergueu a casa-grande, multiplicou a senzala. O senhor de engenho ganhou prestígio, virou político, definiu o rumo do Estado. Quinhentos anos depois, a industrialização mudou o mundo. A economia foi diversificada. Mas em Alagoas, pouca coisa foi alterada. A cana teima em amarrar o futuro ao domínio do passado. O setor sucroalcooleiro vive em crise, já não é mais soberano na economia. Grande parte do Estado ainda é canavial. O povo agora é escravo da ignorância, estatística dos piores índices sociais.

Da Colônia do século 16 à República do século 21 – sem mais prepostos –, hoje os próprios usineiros mandam na política institucional.

Os cargos ocupados pelos descendentes de donatários são os mais estratégicos. O governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) é usineiro, sócio da Usina Seresta. A Secretaria da Fazenda, arrecadadora de tributos que terá em 2013 mais de R$ 180 milhões para administrar e R$ 1,5 bilhão de encargos para supervisionar, não saiu do canavial. Até 2009, a pasta era chefiada por sua irmã Fernanda Vilela, advogada da Cooperativa Regional dos Produtores de Açúcar e Álcool de Alagoas. Mulher do ex-senador João Tenório, sócio da Usina Triunfo, ela entregou o cargo para o secretário adjunto, o usineiro Maurício Toledo, do Grupo Toledo que, em Alagoas, reúne as usinas Capricho, Sumaúma e Paísa; e em São Paulo, mantém a Usina Ibéria, adquirida em 2002, com o maior potencial de produção entre as quatro unidades.

Ainda na equipe de Vilela, o usineiro Alexandre Toledo, também sócio do Grupo Toledo, foi escolhido para comandar a Secretaria de Estado da Saúde. No ano que vem, a pasta vai abocanhar a maior fatia do orçamento. A previsão é de mais de R$ 961 milhões à disposição do secretário, que já teve o nome ventilado para sucessão em 2014. O volume de recursos é superior ao da Educação, que deverá ter R$ 797 milhões em 2013.

Ex-prefeito de Penedo, Alexandre Toledo (PSB) é também suplente do deputado federal Rui Palmeira (PSDB), eleito prefeito de Maceió. Rui é do mesmo partido de Teotonio e filho do ex-ministro Guilherme Palmeira que, durante décadas, foi o principal interlocutor dos usineiros nos corredores do poder em Brasília. O futuro prefeito da capital escalou Pedro Vilela, sobrinho do governador, para comandar o Esporte. Em tempos de Copa do Mundo, o cargo pode render projeção.

O Palácio República dos Palmares ainda tem em seu quadro o vice-governador José Thomaz Nonô (DEM), outro empresário dos canaviais. Deputado federal por seis mandatos, ele não é usineiro, mas fornecedor de cana para as usinas. Sua plantação fica na cidade de Coruripe. No último mês de novembro, numevento em Salvador (BA) para anúncio da presidente Dilma Rousseff de R$ 1,5 bilhão em ajuda federal aos municípios castigados pela seca, Nonô falou como agricultor. “Como plantador de cana em Coruripe, minha produção também sentiu o deficit hídrico”, lamentou ele na Bahia, segundo a agência de notícias do governo na internet.

O domínio da cana também chegou ao topo do poder na Assembleia Legislativa. Presidente da Casa, o deputado Fernando Toledo (PSDB) é usineiro, sócio do Grupo Toledo. Ele é primo do presidente do Tribunal de Contas do Estado, Luiz Eustáquio Toledo, outro usineiro, que comanda o órgão responsável pelo julgamento das contas das 102 prefeituras e câmaras municipais de Alagoas, além do governo estadual. Fernando, desde que chegou à Assembleia, tenta garantir o cargo vitalício de conselheiro do Tribunal de Contas.

Em Brasília, Alagoas também é representada pelos donos da cana-de-açúcar. O deputado federal João Lyra (PSD) comanda o Grupo João Lyra, com cinco usinas, três em Alagoas e duas em Minas Gerais. Este ano, as empresas do deputado tiveram falência decretada, mas a decisão foi revertida na Justiça. Dos canaviais de Alagoas para os gabinetes do Congresso Nacional, também saiu o suplente de senador José Givago Raposo Tenório. Em 2010, ele compôs a chapa do então deputado federal Benedito de Lira (PP). Filiado ao PSDB, José Givago é diretor da Usina Triunfo, do grupo empresarial comandado pelo ex-senador João Tenório, cunhado do governador.

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